O asilo de idosos recebeu
naquela manhã mais uma senhora.
Chegou calada, sentou-se em
uma cadeira de rodas e mergulhou em lágrimas. O semblante traduzia a
desesperança e a mágoa pelo abandono.
Notava-se que o seu único
intuito era aguardar a morte. Parecia que a sua volta tudo já morrera,
igualmente.
Foi então que um jovem, que
costumava visitar os idosos com regularidade, se aproximou.
Tentou conversar. Mas ela se
mantinha calada, num protesto mudo de rejeição aos homens que a haviam deixado
ali. Longos suspiros escapavam do seu peito e as lágrimas rolavam,
silenciosas.
O rapaz brincou, perguntou e
insistiu. Ela não conseguiu resistir. Sorriu e acabou por contar a triste
história de sua vida.
Fora uma mulher muito rica.
Com o marido, administrava sete fazendas. Com a morte dele, ela assumira os
compromissos, ao tempo que cuidava da única filha.
Quando a filha se casou,
estranhamente foi se acercando da mãe. Começou a se interessar pelos negócios.
Depois, foi a vez do genro. Tarefas divididas. Esforços somados.
Ela pensava em como tudo, um
dia, deveria ficar para a filha e os netos. Talvez ela, em sua velhice, pudesse
realizar algumas viagens que nunca se permitira.
Aos setenta e dois anos, por
insistência da filha, passou-lhe uma procuração, concedendo-lhe amplos
poderes.
Fora seu erro. Em plena posse
de tudo o que um dia seria seu por direito, a filha aliou-se ao marido e, em
doloroso processo, conseguiu que a mãe fosse declarada incapaz.
Por fim, a colocaram naquele
asilo, sem recursos. Não era para morrer de desgosto? - Concluiu a
senhora.
O jovem, reconhecendo nela os
valores da liderança, da capacidade de trabalho, lhe falou do quanto ela poderia
enriquecer outras vidas.
Ela era uma pessoa com
experiência administrativa. Por que não se dispor ao trabalho naquela
instituição, auxiliando o serviço de voluntários e funcionários?
Por que não reunir aqueles
idosos todos, sem esperança, e lhes falar da terra, de grãos, produção, gado,
semeaduras?
Afinal, muitos deles vinham
do campo e, com certeza, gostariam de ouvir sobre o que fora a tônica das suas
vidas, por um largo tempo.
Ela ouviu, ouviu e aceitou a
ideia.
Levantou-se da cadeira de
rodas onde se jogara e começou a agir. Sua filha e seu genro lhe haviam usurpado
os bens, arrancando-lhe as possibilidades de viver como desejasse. Mas não
podiam lhe destruir as conquistas interiores.
Ela tinha valor e esse valor
podia ser usado em prol de outros desesperançados.
Ergueu-se, sacudiu a poeira
da mágoa e começou a fazer sol em outras vidas, inundando-se de luz.
* * *
Se você está triste porque
foi abandonado, lembre-se dos que nunca tiveram família, lar e afetos.
Se você está magoado porque
lhe feriram, não permita que isso destrua o restante da sua vida.
Ninguém lhe pode tirar as
conquistas realizadas, os talentos conseguidos e a imensa capacidade de amar que
temos todos nós, Espíritos imortais, filhos de Deus.
Redação do Momento Espírita.
Em 24.01.2012